Entrevista com o Economista e Professor João Manuel Cardoso de Mello, retirado da revista: "IBEF em Revista" (Informativo do instituto Brasileiro de Executivos de Finanças - Campinas - Edição n°106 - Maio/2009)
Com uma visão critica e profunda da cena econômica atual, o economista e professor João Manuel Cardoso de Mello, fundador da Facamp, Faculdades de Campinas, em entrevista ao Ibef Em Revista, avalia que, embora o alto numero de demissões tenha produzido muitos estragos aqui e no resto do planeta, a julgar pelos números do mercado, “o pior já passou” e a economia brasileira deve manter uma tendência ascendente, embora afirme que o PIB nacional em 2009 deve ser negativo em 1,5%. “o que não é tão ruim, se comparado com as taxas de outros países”, avalia o economista. Na entrevista, João Manuel também comenta sobre o novo desenho político-econômico escrito pela China, que emerge como a grande novidade no mapa das relações globais. “A China esta fazendo um fundo para o leste da Ásia e caminha para uma união de pagamentos, que vai atingir toda aquela região, com Japão e Índia”. Ele comenta ainda que o dólar como a moeda de reserva internacional esta ameaçado.
Entrevista:
Ibef Em Revista – A tendência de alta Bolsa sinaliza que o pior da crise já passou?
João Manuel Cardoso de Mello – A bolsa na verdade espelha uma expectativa das pessoas. Estamos vendo que o governo brasileiro tornou varias medidas corretas, algumas com atrasos, mas tudo bem, porque outros países também demoraram nisso. O BNDS teve o seu orçamento dobrado, o que impediu que algumas empresas tivessem dificuldades muito grandes. A diminuição do IPI para os carros e em seguida também para a linha branca e para materiais de construção foram corretas. O governo também impediu a quebra de bancos pequenos. Corretamente, porque só gente maluca deixa banco quebrar. A taxa de juros tem baixado, embora ainda esteja alta. Já passamos o pior daquela contratação de credito. Continuo achando que vamos ter este ano uma taxa de PIB negativa em 1,5%, mas não tem importância. Seguramos a possibilidade de uma recessão grande, mais do que isso, a perspectiva é que a economia, vá devagar, mas crescendo e para o ano que vem ocorra a retomada de crescimento. A posição relativa do Brasil é muito boa.
Ibef Em Revista – Como o Sr. Vê o movimento das economias da China e dos Estados Unidos?
João Manuel – Uma noticia muito boa para nos (brasileiros) é uma proeza da China, que tomou medidas enérgicas de gastos, em transportes e na área de saúde, como previdência social, que eles não tinham. Fizeram um programa muito bem feito e rápido e estão crescendo, isso ajuda a demanda por nossas commodities. O problema dos americanos ainda é muito grave. Estão fazendo um programa gigantesco de recuperação. O problema é que olhando em médio prazo, os Estados Unidos não terão um crescimento baseado na expansão do consumo, porque as famílias americanas estão altamente endividadas. Eles têm problemas gravíssimos de perda de competitividade em vários setores da economia. O presidente Barack Obama esta fazendo um programa de reestruturação de toda economia americana. Não é fácil entender por onde é que a coisa vai sair. Eles enfrentam ainda a concorrência chinesa, que tem a formula trabalho barata por tecnologia de ponta. O dólar como moeda de reserva internacional esta ameaçado. A China esta fazendo um fundo para o leste de Ásia e caminha para uma união de pagamentos que atingirá toda aquela região, com Japão e Índia. Veja que o comércio do Japão com a China já é maior do que o comercio do Japão com Estados Unidos. Os europeus estão em uma posição cautelosa do ponto de vista de políticas mais agressivas, porque temem a desvalorização do euro. Nos próximos anos essa coisas vão se alterar, não se sabe ainda muito bem em qual direção, mas vão mudar.
Ibef – Voltando ao Brasil, temos o risco de um rebote da crise?
João Manoel – Não acredito nisso. Essa reentrada de capital estrangeiro na Bolsa é um sintoma inicial de que o pior já passou. As pessoas começam olhar onde vão colocar o seu dinheiro. Aqui ficou um lugar razoável para as pessoas botaram dinheiro.
Ibef – O que o Sr. Diria para o empresário?
João Manuel – Para o empresário diria que dentro do possível da sua empresa, não desapareça do mercado, não corte radicalmente em propaganda e marketing, não interrompa seus projetos de investimento e não demita gente importante para sua empresa. Quando a economia retomar você terá uma posição vantajosa em relação ao que fez tudo isso. O consumidor, que ainda esta cauteloso, a medida que o medo de perder o emprego desapareça, vai voltar à normalidade
TEXTO: retirado IBEF/maio 2009
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