Recentemente, o senhor afirmou que o capitalismo passa por seu momento mais frágil desde o pós-guerra. A crise que se desenhou foi grave assim?
É grave e não podemos brincar com ela. A forma acelerada como o emprego encolheu no mundo e o volume ao mercado financeiro que vimos foi inédito no pós-guerra. O governo da Inglaterra anunciou que vai dar seguros para quem tem hipoteca imobiliária a fim de garantir que os donos das casas possam permanecer em seus imóveis. Então, com todos estes fatores no cenário, não há porque subestimar o tamanho da crise. Quem entende do assunto montou um pacote de intervenções sem paralelos. Os bancos comerciais com medo de emprestar as indústrias e, agora, o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) avalia fazer empréstimo diretamente as empresas a fim de evitar um colapso da economia.
Portanto, não dá para ficar especulando sobre quando a crise vai passar. Pode até ser que passe rápido, mas somente se os governos nacionais agirem com vigor, intervindo na economia. Neste momento, os únicos agentes que podem intervir para evitar uma catástrofes são os governos.
Os instrumentos dos governos são suficiente para estancar a crise? Há disposição política de usá-los?
Sem a ajuda dos governos, acredito, que teremos uma catástrofe completa. Com intervenção, no entanto, será ruim, mas não catastrófico. Se você olhar o mercado americano, por exemplo, as famílias e os bancos estão reduzindo suas dividas. Não querem gastar mais. So pagar as dividas antigas. Se todos fazem isso ao mesmo tempo a economia vai para o buraco. É o chamado paradoxo da desalavancagem. Economia é uma coisa simples, as pessoas que complicam muito. O fato é que, se todos decidirem poupar ao mesmo tempo, a economia pára. Afinal, o gasto de um é a renda de outro. Se a empresa não gasta contratando, pagando salários. então os trabalhadores também não tem o que gastar.
Agora, se as ações dos governos centrais forem efetivas, no sentido de garantir o credito e investimentos público, então é possível o cenário se regenerar. Isto não ocorre de uma hora pra outra. Mas, aos poucos, se bancos e empresas perceberem que a há melhor perspectiva para investir e lucrar, então há uma retomada da confiança e a economia vai voltando aos trilhos. Mas, para isso acontecer, ainda há muito chão para percorrer. O presidente do banco Central (Henrique Meirelles) falou sobre isso recentemente. Ele disse que as pessoas , antes, estavam em pânico com a inflação e , agora estão em pânico com a crise. A saída é controlar o pânico, retomar a confiança.
No caso do Brasil, o governo deveria ser mais ousado?
Não há duvidas. O momento exige baixar os juros, diminuir impostos que incidam sobre a classe media, garantir o credito para as empresas e colocar dinheiro em setores como o mercado imobiliário e a industria automotiva. O setor imobiliário, por exemplo, viveu um crescimento muito rápido nos últimos anos, mas nada comparável a uma bolha. E, diferentemente dos Estados Unidos, quem compra casa no Brasil está na maioria das vezes, atras de seu primeiro imóvel.
Em econômica, sabemos que há dois setores que têm um comportamento preponderante no ciclo econômico: os automóveis e a construção civil. Para cada real que você gasta neste setores, movimenta outros 2,5 ou 3. Então, é hora de bancos com a Caixa Econômica Federal investirem mais credito imobiliário, liberar dinheiro para a classe media comprar, dar subsidio mesmo, flexibilizar regras. Depois que a crise passar, você avalia como vai recapitalizar a Caixa. Mas no momento é preciso agir.
Belluzzo diz que a crise financeira é grave, mas o Brasil pode atravessá-la sem grandes traumas e se o governo intervier com energia na economia. Belluzzo defende corte de impostos, baixa nos juros, garantias de crédito as empresas e mais recursos a disposição de setores estratégicos, como o mercado imobiliário e a industria automobilística.
Acredito (Gustavo) que estamos no caminho correto, o governo poderia ser mais rápido e deveríamos buscar uma desburocratização. Os cartórios, por exemplo, ajudam, mas, ao mesmo tempo são resquícios coloniais que poderiam ser melhorados. Muitos são praticamente inuteis e lentos. Há burocracia demasiada, as leis confusas e um governo sem rumo, é o que eu vejo. Ocorreu uma certa movimentação, mas, Brasília, pra mim, continuou a mesma fanfarra de sempre. Senadores e deputados trabalhando o mínimo necessário e sem reformas de grande porte. Podemos mudar e conseguir um crescimento industrial inteligente e estruturado. Mas, nossos políticos são preparados? Creio eu que na "Republica das Bananas" ficará tudo a mesma coisa.
Bela entrevista! Um blog atualizado, dinâmico e versátil. Sempre que possível façam mais entrevistas com Economistas conseituados.
ResponderExcluirParabéns!